A FAZENDA EXPERIMENTAL DE MACAÚBAS, conta com instalações administrativa e salas de aula, prontas para receber os cursos de extensão chancelados pela UFRB, EMBRAPA, SENAR e outras instituições públicas e privadas, iniciando o ano letivo com o Curso de Gestão do Conhecimento, no mês de março próximo. Já tem instaladas e iniciadas a produção das unidades de Processamento de Leite (COOPLAMAC) e a Casa do Mel (APIMAC),  com Certificado do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). Agora, foi iniciada as obras numa área de 07 ha para a instalação de equipamentos modelos das cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura, para servirem de referência aos produtores interessados nesse negócio. Inicialmente será instalado um abatedouro de aves de pequeno porte, com capacidade de até 1.000 aves/dia, seguido, a médio prazo, de uma granja para 25.000 aves e, a longo prazo, uma fábrica de ração animal, que servirão de referência para os produtores da região interessados no segmento.

Ato de aprovação do Projeto de Abatedouro de Aves em 17/09/2021. Leonardo Santos do Consórcio Bacia do Paramirim, Prefeito de Macaúbas Aloísio Rebonato e Prof Almir Eloy Gestor do Conhecimento.

A retaguarda científica e tecnológica está assegurada pelo Acordo de Cooperação firmado entre a UFRB, EMBRAPA, FAEPE e a Associação Baiana da Avicultura – ABA, que inclui o município de Macaúbas como beneficiário. O projeto também consta do Planejamento Estratégico da Agropecuária Baiana, executado pela SEAGRI/BA (2011 – 2023) e contará com o apoio das instituições que compõem a Câmara Setorial da Carne – Aves e Suínos. Todo o arranjo institucional está sendo colocado à disposição dos produtores rurais e empresariado local na sede da Fazenda Experimental no Povoado do Leite que está sob a coordenação da Secretaria Municipal de Agricultura, através do Serviço de Inspeção Municipal – SIM, compartilhando a equipe técnica do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Bacia do Paramirim.

A AVICULTURA

A avicultura de corte no Brasil até o final da década de 50 era uma atividade básica de subsistência e que dispunha de poucos recursos, sendo desenvolvida em bases não empresariais. A partir de 1960, passou a ter uma maior intensidade no seu processo de produção, devido a melhoria genética, à introdução de novas tecnologias, ao uso de instalações mais apropriadas, de alimentação racional e da parceria entre produtor e a agroindústria através de contratos de integração, que permitiu saltos qualitativos na produção e produtividade, tornando este segmento um dos mais dinâmico e competitivo do país.

A partir de 1975, a avicultura de corte se insere no mercado externo, exportando para o Oriente Médio três mil toneladas de frangos inteiros. Sendo os principais importadores a Arábia Saudita e os países do Golfo Pér-sico. Por se tratar de um mercado protecionista, que estabelece padrões rígidos de controle de qualidade, sendo extremamente competitivo, as empresas exportadoras brasileiras, objetivando aumentar a produção e produtividade na busca de produzir com melhor qualidade e agregar maior valor aos produtos, a preços competitivos, para atender a crescente exigência dos importadores, passaram a investir em melhoria na genética, em novas tecnologias e processos voltados para toda a cadeia produtiva do frango de corte.

Atualmente, com a abertura de novas fronteiras agrícolas, principalmente as localizadas no Centro-Oeste – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Oeste da Bahia, que se tornaram grandes produtoras de grãos, começaram a surgir complexos avícolas que operam num sistema de integração e apresentam vantagens comparativas em relação ao Sul e Sudeste. A evolução da avicultura de corte nas demais regiões do Brasil não vem ocorrendo na magnitude da verificada no Sul e Sudeste.

A ATIVIDADE NA BAHIA

Até a década de 80, a dinâmica da agricultura baiana tinha como base a exportação ou a agroindustrialização/exportação de produtos como o cacau, canade-açúcar, café, sisal, fumo, algodão e mamona, dentre outros de menor importância. A crise de produtividade das culturas outrora tradicionais na pauta de exportações baianas foi acompanhada de avanços expressivos em atividades emergentes, como a soja e a fruticultura, além do surgimento de novas explorações, indicando a possibilidade de novos ciclos expansivos. A partir da década de 1990, a agropecuária baiana experimentou um conjunto de importantes transformações, em todos os seus segmentos, que marcaram, profundamente, não apenas as relações de produção no campo, mas também o seu posicionamento perante os mercados nacional e internacional (BAHIA. Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, 2002, p.13).

Nessa nova performance, merece destaque a avicultura. A rigor, essa atividade já era explorada no Estado, no entanto, em escala reduzida, frente ao potencial existente e à dimensão alcançada no final da década. Até 1997, a avicultura de corte na Bahia era desenvolvida exclusivamente por produtores independentes, situação que sempre colocou o Estado em posição vulnerável em relação às conjunturas de mercado, impedindo o pleno desenvolvimento dessa atividade. A partir de 1998, teve início, ainda de forma incipiente, a produção sob a forma de integração – parceria entre agroindústria e produtores na qual o integrado recebe os insumos necessários à produção, encarregando-se da criação e engorda das aves até a idade do abate, recebendo como pagamento um valor previamente negociado. Sinérgico, o modelo concilia a eficiência produtiva dos pequenos avicultores e a enorme capacidade de produção em escala e distribuição dos processos de carne. Através desses contratos, a avicultura baiana passou a ter maior eficiência no processo produtivo. Nos últimos anos, a avicultura de corte vem obtendo excelentes resultados em relação ao manejo de seus plantéis, principalmente no tocante à permanência das aves no galpão (42 a 45 dias), demonstrando que os avicultores dotados de melhor infra-estrutura têm conseguido reduzir o índice de conversão alimentar para 1,9 kg de ração por quilo de carne, valor apresentado pelo Sul e Sudeste do país (pesquisa direta).

Na Bahia, a produção de frango de corte é desenvolvida nas regiões econômicas do Paraguaçu, Litoral Norte, Sudeste e Oeste do Estado, sendo a microrregião de Feira de Santana a principal zona produtora, gozando de situação privilegiada por dispor de recursos humanos e materiais, quantitativa e qualitativamente em abundância, com perspectivas de se tornar o maior pólo produtor de frango de corte do Nordeste, apresentando condições de suprir o mercado interno e promover a exportação para os países da África, Ásia e Europa.

Mesmo com esses avanços, o setor ainda comporta mais instalações de frigoríficos industriais no Estado. Em que pese as condições climáticas favoráveis, a Bahia continua importando frango vivo, congelado e industrializado, sobretudo dos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, transferindo renda para essas regiões. Quadro que vem se modificando com a instalação e/ou ampliação de novos frigoríficos no Estado, fruto da Política Fiscal e de Incentivos concedidos pelo Governo do Estado da Bahia.(Oliveira, 2004)

No entanto, esse quadro sofre profunda alteração com o funcionamento do “complexo industrial de proteínas animal” e dos projetos de matadouros frigoríficos de empresas locais que se encontram em fase de instalação. A implantação desse complexo agroindustrial avícola promoverá mudanças no meio rural da região, contribuirá para a diminuição do êxodo rural, para a melhoria do emprego e da renda e alterará a forma de produção, cuja predominância tenderá para o sistema de integração vertical através de contratos de parcerias com os pequenos e médios produtores, os quais desempenham um papel de fundamental relevância a montante da cadeia produtiva de frango.

Observando que a demanda por frango no Estado é insatisfeita e seu consumo médio atual em torno de 12 kg por pessoa, bem inferior a média nacional, que a renda per capita vem sofrendo melhoria, que a produção de grãos (soja, milho e sorgo) na região Oeste da Bahia apresenta uma crescente evolução, o mesmo ocorrendo com os investimentos em comunicação, infra-estrutura portuária, meios de transporte terrestre e fluvial e que a produção de pinto de um dia vem aumentando. A avicultura de corte na Bahia, e especificamente na microrregião de Feira de Santana, apresenta vantagens comparativas e competitivas em relação a outras regiões do Estado, encontrando-se numa situação privilegiada, por dispor de recursos humanos e materiais, quantitativa e qualitativamente em abundância, com perspectivas de se tornar, com a consolidação do complexo agroindustrial avícola, o maior pólo produtor de frango de corte do Nordeste, com condições de suprir o mercado interno e promover a exportação para os países da África e Europa.

A concentração de renda no Brasil gera um aprofundamento das desigualdades sociais e promove um desequilíbrio regional através da transferência de renda das regiões subdesenvolvidas para as desenvolvidas. Neste contexto, apesar do crescimento que a Bahia vem apresentando a partir da década de 70, o Estado continua sendo um grande importador de produtos industrializados do Sudeste e Sul do país, transferindo renda para essas regiões.

No que pese a dimensão continental de sua extensão territorial, as condições climáticas favoráveis, a abundância dos recursos naturais, entre outros, historicamente a Bahia continua importando alimentos, tendo como destaque o frango congelado e industrializado. Esta transferência de renda poderá ser eliminada em médio e longo prazos, com o incentivo à instalação de novos complexos agroindustriais avícolas naquelas regiões que apresentam vantagens competitivas, que são identificadas a partir dos dados constantes no estudo desenvolvido pela Secretaria da Agricultura da Bahia – SEAGRI que condensa informações sobre a avicultura de corte na Bahia.

A avicultura de corte baiana, não tem acompanhado os avanços obtidos pelas regiões produtoras do Sul do país. Este fato decorre de: 1) sua produção é desenvolvida por avicultores independentes, que ficam vulneráveis às oscilações de mercado, em decorrência de choques de demanda e oferta, operando com um relativo grau de risco e incerteza, fatores que contribuem para que esta atividade não seja incentivada, desestimulando novos investimentos; 2) as deficiência observadas na cadeia produtiva da avicultura de corte, com a falta de frigoríficos industriais e da produção ser desenvolvida exclusivamente por produtores independentes, contribuíram para que os avanços alcançados na melhoria do ambiente de manejo e criação de aves, com vista a obter melhor índice de conversão alimentar e maior ganho diário de peso e diminuição do período de engorda, apresentasse um desempenho inferior ao obtido pela avicultura do Sul do país.

A Microrregião de Feira de Santana

A avicultura de corte da microrregião de Feira de Santana conseguiu superar a crise vivenciada pelo setor no início da década de 80 e outras crises de menor intensidade, em decorrência dos produtores de maior porte já produzirem a ração, objetivando a redução de custos para se manterem competitivos a nível de mercado local.

A promoção do desenvolvimento sustentado da avicultura de corte na Bahia, tende necessariamente para a integração vertical, com a coordenação da atividade sendo desenvolvida pelos frigoríficos, que passam a organizar e promover as transações desde as fases de produção dos insumos até a distribuição dos produtos finais nos mercados consumidores. Na região de Feira de Santana, com a implantação do “complexo industrial de proteínas animal”  e dos frigoríficos vinculados a AVIGRO, GUJÃO ALIMENTOS, CAROLINA, TAMBAÚ e outras, institui-se o sistema de integração, parceria entre o produtor/agroindústria, modelo que no Brasil foi implantado inicialmente em Santa Catarina a partir de 1960 (Sorj et al., 1992). Onde se instala, este modelo vem promovendo o desenvolvimento da avicultura de corte que, atualmente constitui-se na cadeia produtiva mais organizada do complexo agroindustrial brasileiro.

O sistema de integração apresenta eficiência em relação à produção independente, porque as operações são desenvolvidas em termos de logística e de coordenação do processo produtivo como um todo, o que permite um ajustamento mais ágil da produção às crises de mercado. E possibilita ganhos de escala no processamento de produtos diferenciados com qualidade e maior valor agregado e com preços competitivos, tornando-se cada vez mais aceitos nos mercados interno e externo em relação às demais proteínas de origem animal. No sistema de integração, as relações entre a empresa integradora e o produtor integrado são definidas em contrato. Geralmente é de responsabilidade da integradora o fornecimento do pinto com um dia de vida, da ração e da assistência técnica, enquanto o integrado fornece as instalações, a mão-de-obra e insumo, com luz e água, tendo por compromisso a entrega da produção à empresa integradora, que determina o preço com base na conversão alimentar, ganho diário de peso e da taxa de mortalidade.

A avicultura de corte, além de se constituir na atividade mais dinâmica do setor agropecuário, tem a capacidade de promover a fixação e ocupação do homem no campo, podendo ser explorada em pequenas áreas de terras com a utilização de mão-de-obra familiar, contribuindo assim para a geração de emprego e renda, a redução do êxodo rural e os conflitos sociais decorrentes da ocupação, posse e do uso da terra.

Considerando  que a avicultura de corte apresenta vantagens comparativas em relação aos demais Estados do Nordeste, sendo potencialmente geradora de renda com retorno de curto prazo, podendo ser explorada por pequenos e médios produtores, com a sua fixação ao meio rural, para promover o aumento de produção, produtividade e competitividade do setor, apresentando espaço para crescimento, com condições de atender à demanda interna e gerar excedentes para a exportação. Esta atividade apresenta as condições favoráveis, com perspectivas de crescimento e poderá contribuir efetivamente para reduzir o elevado grau de deficiência alimentar de consumo de proteína animal que afeta a população baiana e alavancar o desenvolvimento de outras atividades nas áreas de serviço, indústria e comércio, promovendo a geração de emprego, renda, divisas com a exportação, a redução do êxodo rural e dos conflitos sociais.

­­­­­­­­­­­­­­­­­­ ** Almir de Souza Eloy – Coordenador Executivo da Câmara Setorial da Carne – Aves e Suínos SEAGRI/BA e Consultor “ad hoc” de Gestão do Conhecimento da Prefeitura Municipal de Macaúbas.